Os Cem anos de Irmã Dulce
Toda a Bahia, representada pelas mais diversas classes sociais, está festejando, com justificado júbilo, o centenário de nascimento de Irmã Dulce.
Nada mais justo do que reverenciar a vida heróica daquela singular serva de Deus, que veio ao mundo para dedicar-se aos pobres, entregando–se a um trabalho edificante e exaustivo para suas frágeis forças. Com efeito, até hoje, pessoa alguma, em todo o país, realizou obra de caridade da dimensão das Obras Sociais Irmã Dulce.
É que Maria Rita Lopes Pontes, mais tarde, Irmã Dulce, esqueceu-se de si para lutar em favor da sobrevivência alheia.
Em seu corpo frágil se arrimava uma vontade férrea, uma singular disponibilidade para recorrer em favor dos excluídos. Agia como se fosse dotada de uma invejável condição física, submetendo-se a esforços excessivos, investindo suas frágeis condições de saúde, muito além dos limites suportáveis para um ser da sua situação.
Não evitava o desconforto de pedir. Antes investia, com coragem, na busca de recursos, apelando para os corações mais empedernidos. Nesse sentido, fez conquistasinacreditáveis, adoçando o coração de conhecidos empresários endinheirados, muitos dos quais eram muito sovinas.
Serviu de apoio a muita gente, embora houvesse experimentado o descaso dos indiferentes. Desarmava espíritos mesquinhos com o seu poder de persuasão, com sua humildade, apelando sem cessar em favor dos desassistidos. Não perdia de vista os seus objetivos, mesmo quando tinha indeferidos os seus pedidos. Jamais desesperava diante de uma negativa, porque se alimentava da ilusão e aguardava sempre uma nova oportunidade.
Sabia que jamais morreria no coração dos homens, porque adquiriu a imortalidade enquanto estava viva. Intuía que seus poderes admiráveis, a confiança na perenidade de sua obra sobreviveriam ao seu passamento. Trabalhar intensamente era um imperativo da sua vontade.
Não esteve ao resguardo da incompreensão, nem deixou de padecer da incredulidade e da injustiça de muitos. Deve ter sofrido muitas ingratidões, aversões escondidas, sobrepondo-se sempre a esses sentimentos injustos, com a doçura que lhe era inata, com a complacência da sua alma generosa e compreensiva.
Tive a honra da sua convivência, porque frequentemente comparecia à residência de meus pais, convencendo-nos de que se tratava de uma personalidade singular e de que, sob o hábito azul e branco que a envolvia, encontrava-se um coração cordato e pleno de misericórdia. Sua felicidade consistia em fazer o bem. Serenamente, percorreu os caminhos da indiferença, da desafeição, do sofrimento e da amargura.
Aos sinais do seu declínio físico ainda tinha força para lutar contra a insensibilidade de muitos homens. Para concluir essas breves observações, recordo sábio conceito de Pestalozzi, que se aplicam ao seu perfil extraordinário: “Deus fica perto de onde as pessoas demonstram amor umas às outras”. Por isso, ele sempre estava ao lado de Irmã Dulce, O Anjo Bom da Bahia, cujo centenário de nascimento ora se festeja.
Publicação: Tribuna da Bahia