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Eterno Educador Hélio Rocha


Eterno Educador Hélio Rocha

Artigo de Cyro de Mattos - escritor, acadêmico e associado do IGHB





É sempre lamentável informar que a indesejada das gentes levou um dos amigos para o país do nunca mais. Quando se trata de um amigo valoroso, que convive com a práxis cultural com vistas a devolver ao homem o que é próprio dele, a razão e a emoção, o instrumental crítico necessário para descobrir a manhã e clarear a noite, lamenta-se com profundo pesar essa chegada do inexorável para o desfalque da vida. O fato irreversível faz pensar que certas pessoas não deviam morrer, são insubstituíveis na sua maneira de ser porque só produzem acréscimos para o enriquecimento da vida.


Dessa vez a indesejada levou meu amigo, um conferencista magnífico, eterno mestre, Professor Hélio Rocha, aos 99 anos e quase nove meses, ocorrido numa tarde de dezembro deste 2022. Ele era uma enciclopédia de saber, de tudo falava, e bem, seduzia com suas conferências intercaladas com palmas entusiasmadas da plateia.

Foi editor da revista Afirmação, que teve como colaboradores jovens intelectuais baianos nos idos de 60. Nessa época era comum frequentar a Livraria Civilização na Rua Chile como um hábito prazeroso. Era aquele um lugar considerado por frequentadores assíduos como abençoado, ambiente muito procurado por inteligências inquietas em busca de verdades nos livros de autores renomados. Foi professor a vida inteira, não teve outra atividade, amoldou a consciência de várias gerações. Uma pessoa digna do nome intelectual e da denominação de mestre do ensino, um homem simples e prestativo. Participei do documentário sobre sua vida realizado pelo cineasta Cícero Bathomarco. Quanta honra prestar depoimento sobre uma pessoa que muito contribuiu para a formação do escritor entre a juventude intelectual da Bahia.

Aprimorou o sentimento de mundo de várias gerações. Um conferencista iluminado, notável artista da oratória e da escrita, um profissional da inteligência, uma pessoa decentíssima. Sobre esse ícone do ensino na Bahia, ficará na memória o seu exercício eficaz de professor docente, como se fosse um iluminista contemporâneo. As suas aulas não se limitavam ao exibicionismo do ego, nem se constituíam em mera informação do assunto, que se torna repetitivo e enfadonho na transmissão de saberes. Tinha algo mais que prendia, mostrava não ser a vida uma coisa vã, mas a beleza da palavra certa, solta com a verdade em cada manhã.


Como se referiu o professor Jorge Portugal, “Hélio informava e formava. Fosse nas salas universitárias ou em recinto de cursinho pré-vestibular.” Falava de literatura, história, política, pintura, música, teatro e filosofia, sempre com profundidade e elegância. Jazz e música clássica foram duas de suas predileções para enriquecer o espírito.

Ele estará sempre em nosso convívio, os que tiveram a sorte de conhecê-lo e se tornar gente através de seus exemplares ensinamentos. Nossa amizade nasceu em 1959, a ele devo a indicação de livros que lidos só me deram ganhos na minha formação intelectual.


Na sua memória permanecerá a marca do leito voraz, de gosto aprimorado, que abraçou o ensino como maneira de ser fundamental. Provavelmente nem agora esteja descansando no lado de lá. Mergulhado nos livros faça outras viagens, agora no jardim da eternidade. E fique sorrindo de tudo isso que viveu aqui quando esteve do lado de cá.


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